A carta surpreendeu o partido que, no atual momento, aprofunda o debate a respeito de possíveis expulsões na legenda de parlamentares que apoiaram a candidatura de Ronaldo Caiado (DEM), ao governo de Goiás ano passado
O prefeito de Goiânia Iris Rezende escreveu uma carta aberta ao presidente regional do MDB, Daniel Vilela. A carta foi divulgada ontem, quarta-feira (10), e nela, o prefeito aclama que haja uma “abertura para um amplo entendimento que começa pelo gesto simples do perdão”. No trecho Iris se refere aos acontecimentos políticos que geraram luta interna no partido no período de eleição. “Diante de impasses, jamais se pode abrir mão da abertura que possa resultar em conciliação, desde que estejam em jogo os interesses maiores da sociedade e das instituições”, escreveu Iris. A carta surpreendeu o partido que, no atual momento, aprofunda o debate a respeito de possíveis expulsões na legenda de parlamentares que apoiaram a candidatura de Ronaldo Caiado (DEM), ao governo de Goiás ano passado. Entre os citados a serem, possivelmente, expulsos estão os prefeitos Adib Elias, de Catalão, Renato de Castro, de Goianésia e Paulo do Vale, de Rio Verde.
“Situações politicamente delicadas podem ser uma excelente oportunidade para demonstração de amadurecimento. A partir de suas próprias dificuldades internas, o MDB precisa gerar uma mensagem importante para a sociedade, tendo por base a reconciliação”, afirma o prefeito. Iris falou ainda sobre disputa interna, ele afirma que “a decisão firmada por prefeitos e lideranças do MDB durante as eleições, no sentido de apoiar a candidatura de Ronaldo Caiado ao governo pelo DEM, constituindo-se uma dissidência, naturalmente trouxe grande incômodo nas hostes da legenda, uma conflagração que se arrasta até os dias atuais diante das expectativas de julgamento deste caso, por parte da Comissão de Ética do partido”. O prefeito prega unidade dentro da legenda. Leia abaixo na íntegra a carta completa:
Senhor Presidente,
Embora distante do debate político que se estabeleceu no MDB desde as eleições para o governo no ano passado, e, neste momento, apenas dedicado ao enfrentamento dos desafios de gestão na Prefeitura de Goiânia, me achei, contudo, no direito de fazer uma ponderação a respeito dos rumos de nosso querido partido em face de suas próximas decisões. Como muito bem sabem os emedebistas e a população de Goiás, sou um homem forjado na persistência pelo diálogo enquanto a melhor via de resolução de conflitos e posicionamentos divergentes. Diante de impasses, jamais se pode abrir mão da abertura que possa resultar em conciliação, desde que estejam em jogo os interesses maiores da sociedade e das instituições.
Embora distante do debate político que se estabeleceu no MDB desde as eleições para o governo no ano passado, e, neste momento, apenas dedicado ao enfrentamento dos desafios de gestão na Prefeitura de Goiânia, me achei, contudo, no direito de fazer uma ponderação a respeito dos rumos de nosso querido partido em face de suas próximas decisões. Como muito bem sabem os emedebistas e a população de Goiás, sou um homem forjado na persistência pelo diálogo enquanto a melhor via de resolução de conflitos e posicionamentos divergentes. Diante de impasses, jamais se pode abrir mão da abertura que possa resultar em conciliação, desde que estejam em jogo os interesses maiores da sociedade e das instituições.
O MDB se constituiu, ao longo de décadas, como a referência maior desta premissa calcada no equilíbrio, permitindo que o Brasil pudesse alcançar condições de governabilidade em tempos de sucessivas crises. O partido jamais cedeu às tentações para a confrontação. Firmou-se numa conduta cívica alicerçada em ações responsáveis, sempre a colocar os interesses nacionais acima de tudo, em permanente compromisso com a população. O ódio jamais constrói. Pelo contrário, colabora de maneira explosiva para a desintegração social ao contaminar as relações institucionais e ao aprofundar situações que geram impasses e incertezas.
Como é da tradição do MDB, temos que persistir e primar pela conduta consequente, que fortaleça uma mensagem de desprendimento e desapego no que diz respeito à luta pelo poder, sempre tendo como norte as causas maiores da sociedade. A propósito das posições assumidas durante a disputa para o Governo do Estado em 2018, infelizmente o que se verificou foi a grave divisão interna no MDB, tendo como ponto de discórdia o lançamento de uma candidatura própria ou o apoio a outra candidatura.
Sempre com posições claras a este respeito, na ocasião defendi que o partido se mantivesse fiel à sua trajetória de sempre participar das disputas majoritárias como cabeça de chapa. Afinal, somos uma legenda forte, arraigada no cotidiano da população, protagonista em todos os momentos de definições a respeito dos destinos de Goiás e do Brasil. O meu apoio à candidatura de Vossa Excelência ao governo, portanto, revestiu-se de extrema coerência para com as posições que assumimos desde as origens, a partir da visão de que o MDB tem uma missão maior no âmbito político, no sentido de conduzir o debate responsável, construtivo e patriótico.
A decisão firmada por prefeitos e lideranças do MDB durante as eleições, no sentido de apoiar a candidatura de Ronaldo Caiado ao governo pelo DEM, constituindo-se uma dissidência, naturalmente trouxe grande incômodo nas hostes da legenda, uma conflagração que se arrasta até os dias atuais diante das expectativas de julgamento deste caso, por parte da Comissão de Ética do partido. Uma decisão a respeito, contudo, reveste-se de grande complexidade política, em especial porque os ânimos ainda permanecem acirrados com a predominância, até aqui, de posições favoráveis à expulsão de importantes quadros do MDB, grandes militantes e dirigentes que conosco marcharam em memoráveis jornadas contra a ditadura militar e pela conquista das liberdades democráticas.
O nomes que são passíveis de julgamento também desempenham papel de relevo como gestores muito bem avaliados em seus municípios, além de serem líderes que contribuíram de maneira efetiva para o crescimento do MDB em Goiás e no Brasil. Situações politicamente delicadas podem ser uma excelente oportunidade para demonstração de amadurecimento. A partir de suas próprias dificuldades internas, o MDB precisa gerar uma mensagem importante para a sociedade, tendo por base a reconciliação. Em Mateus 18:20-22, Pedro se dirigiu ao Senhor, com a grande questão: “Até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete”. Em Efésios 4:32, outra mensagem muito afirmativa: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo”.
Faço, portanto, uma conclamação para que todos os envolvidos nos acontecimentos políticos que geraram a luta interna no MDB tenham abertura para um amplo entendimento que começa pelo gesto simples do perdão. Tenho absoluta certeza de que, a despeito das emoções provocadas pela dureza do debate, possam as partes iniciar um profícuo e duradouro diálogo, de modo a alcançar a sonhada unidade. Este é o grande caminho para que o MDB se mantenha forte, aguerrido e combativo, jamais permitindo que circunstâncias da conjuntura possam afetar a sua caminhada histórica. Na minha idade, do alto dos meus 85 anos, creio ter reunido a suficiente experiência para sugerir um posicionamento fraterno e solidário por parte do conjunto partidário, por amor ao MDB e sua bela trajetória, por amor a Goiás e ao Brasil.
Iris Rezende Machado
Iris Rezende Machado
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